Quem cozinha

Trabalhei por muitos anos com patchwork em São Paulo. Em 2014, após uma oportunidade de testar outro modo de vida, eu e Celso (meu companheiro de aventuras e na vida) nos mudamos para São Luís, no Maranhão. Mas não foi uma mudança com caixas e móveis… Deixei minha casa montada para trás, e minha filha que acabava de se formar e estava entrando no mercado de trabalho. Foi uma mudança com uma mala e vida nova em um apartamento semi mobiliado, com uma cozinha minúscula onde só cabiam um fogão e uma geladeira… 

Inevitável a “dorzinha” de desapegar de tantos acessórios, louças e panelas, sem falar na estante com os livros de receitas, todos colecionados ao longo da vida… Mas acredito no lado bom das mudanças. No meu caso, foi aprender a viver com muito menos do que sempre achei que precisasse, e descobrir que é possível fazer coisas incríveis assim. A simplicidade acaba sendo um caminho para criar mais e improvisar muito.

Comecei a cozinhar cedo, mas sempre fui uma cozinheira amadora. Depois dessas mudanças radicais na minha vida, acabei tendo tempo para repensar a minha relação com a comida. E então me vi reaprendendo a preparar os alimentos com outro olhar e muito mais cuidado.

Monica Hering

Passei a analisar quais são as melhores escolhas de ingredientes, mas não por seu valor nutricional ou dietas que eles atendem. Acredito que escolher os alimentos começa ao saber sobre a forma como chegaram às suas mãos (e tudo que isso envolve), e na quantidade de processamento que sofreram. Foi em meio a essas reflexões que nasceu o blog…

Resolvi postar as receitas que fazia em casa, e que de modo geral, eram bem simples e com ingredientes que normalmente tinha em casa. Evitava os alimentos industrializados: o meu foco estava em verduras, legumes, grãos integrais, frutas… Outra preocupação era com o aproveitamento quase total, evitando o máximo possível qualquer tipo de desperdício.

Assim, vivemos quase cinco anos no Maranhão, enquanto pesquisava alimentos regionais, visitava mercados locais e consumia o que estava por perto. Também aprendi a adaptar muitas receitas, simplificando sempre que fosse possível, ou necessário.

Durante este período “sabático” tive a oportunidade de rever muitos conceitos. Adquiri novas habilidades e busquei equilíbrio emocional a partir das novas escolhas. Postar essas experiências passou a ser a minha forma de compartilhar o que venho descobrindo nessa jornada, principalmente sobre o que hoje entendo por “comida de verdade”.

Em junho de 2018, recebi o diagnóstico de câncer de mama triplo negativo. Fiz o primeiro protocolo de quimioterapia em São Luís, enquanto me acostumava com as futuras mudanças em minha vida, e teimava em acreditar que seria possível atravessar essa reviravolta sem sair do Maranhão… Apesar de ter tido um acompanhamento extremamente cuidadoso dos médicos de lá, acabamos optando por voltar para São Paulo e ficar perto da filhota. Foram tempos difíceis, precisei de muita ajuda e carinho.

Passei pela cirurgia (mastectomia com retirada de todos os linfonodos axilares – os gânglios que temos em diversas partes do corpo), outra bateria de quimioterapia, radioterapia e retorno a quimioterapia… No início de 2020, comecei a retomar alguns projetos ligados à alimentação, ou melhor, tentei apesar da pandemia.

Atualmente moramos no litoral de São Paulo e estamos recriando alguns sonhos e voltando a ter um modo de vida mais tranquilo. Desapegar é uma das lições que a vida tem me ensinado. E continuo aprendendo!

Sejam bem-vindos à minha cozinha, puxem um banquinho, peguem um café, vamos conversar!

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People

Cozinheira amadora e autora do blog Santo Legume desde 2014.