Demolhar ou não demolhar?
Tenho um caderninho onde anoto ideias para o blog e para a newsletter. É onde também guardo as dúvidas sobre as quais me escrevem. Arquivo tudo com cuidado e incluo as perguntas sempre que se encaixa no assunto. Uma das questões mais comentadas desde que comecei o blog, há oito anos (sim, oito anos!) é sobre demolhar as leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico…).
Já escrevi um pouco aqui e ali sobre o assunto no blog, mas acho que está na hora de voltar no assunto. Tem muito leitor(a) novo(a) e a dúvida voltou a aparecer com frequência.
A questão do demolho do nosso feijão de todo dia rende discussões e muitos questionamentos. Afinal, para quem mal tem tempo de cozinhar, essa é uma tarefa que pode parecer meio fora de propósito. Também há quem diga que parte dos nutrientes se perde na água do demolho.
Começo com as vantagens do demolho: leguminosas podem causar desconforto abdominal. Elas contêm carboidratos que não podem ser digeridos, mas alimentam micro-organismos presentes no nosso sistema digestivo, causando gases.
O demolho reduz os fitatos presentes nas leguminosas, conhecidos também como ácido fítico. Os fitatos dificultam o processo de absorção de nutrientes pelo sistema digestivo.
Os grãos cozinham mais rápido: hoje em dia eu nem uso mais a panela de pressão, para poder conferir o ponto.
Como fazer o demolho
Tempo do demolho (aproximado e mínimo)
Lentilha - 8 a 12 horas
Feijão e grão-de-bico - 24 a 48 horas
Exceções: feijão azuki e feijão moyashi (ou mungo) - demolho de poucas horas. São feijões pequenos e de fácil digestão.
Checar se não há pedrinhas ou pedaços de madeira antes de colocar no molho.
Descarte a espuma e troque a água algumas vezes. Guarde na geladeira se estiver muito calor.
Dicas extras
Prepare em quantidade maior e congele em porções pequenas, mesmo sem tempero (ou com pouco tempero).
Coloque uma folha de louro na hora de cozinhar, ela acrescenta um toque de sabor.
Enquanto estiver cozinhando, retire a espuma que se forma na superfície com uma escumadeira.
Não guarde as leguminosas cruas por muito tempo. Quando ficam velhas, elas ficam duras, mesmo depois de um longo cozimento.
Guarde os grãos crus em lugar seco e bem fechado. Prefiro transferir para vidros com tampa, evitando ataques de bichinhos na dispensa, que podem vir de brinde na embalagem.
Aproveitando as lentilhas demolhadas, aqui vai uma receita digna de almoço de domingo! Ou, quem sabe, para uma ocasião especial nos encontros do final de ano… Mas também pode ser para um dia qualquer durante a semana, aproveitando para ter almoço pronto no dia seguinte. Na verdade, eu amo me mimar com comida gostosa em qualquer dia!
Gratinado de lentilha, batata-doce e espinafre
2 cebolas roxas cortadas em fatias
2 dentes de alho espremidos
1 e 1/2 xícaras de lentilhas cozidas
4 tomates picados (com as sementes)
1 maço pequeno de espinafre, separar as folhas e lavar (já fiz com ora-pro-nobis)
700g de batata-doce fatiada fininho (usei a salmão)
200ml de leite de coco
1 colher (chá) de páprica (usei a defumada)
2 colheres (sopa) de azeite de oliva ou óleo vegetal
sal e pimenta-do-reino
Aqueça o forno (200 °C).
Refogue a cebola no azeite até ficar translúcida. Junte o alho e mexa bem.
Coloque a lentilha cozida em uma tigela. Junte a cebola refogada e o tomate picado e misture. Tempere com sal e pimenta-do-reino.
Coloque metade da mistura com lentilha em uma travessa refratária média. Cubra com metade das folhas de espinafre e metade das fatias de batata-doce.
Repita as camadas, seguindo a mesma ordem.
Misture o leite de coco com a páprica e tempere com um pouco de sal.
Despeje o leite de coco na travessa. Leve ao forno por 50 a 60 minutos, ou até a batata-doce ficar dourada.
Dica
Leitura super recomendada e necessária. Não acreditamos nos efeitos causados por essa comida que não é comida, e continuamos a levar para casa alguns “inocentes” pacotinhos…
Brasil tem 57 mil mortes por ano devido ao consumo de ultraprocessados, estima pesquisa
Aproveite a visita a essa fonte (incrível!) e dê uma espiadinha em outras matérias. Tem muito artigo interessante, e necessário!
Por fim…
Uma das perguntas que fizeram depois que contei das minhas férias, é sobre a minha alimentação fora de casa, ou em outro país. Em poucas linhas: a solução que encontrei para me adaptar é alugar um apartamento, e não ficar em hotel. Além do custo ser mais baixo, ter uma cozinha é um conforto e tanto.
Economizamos preparando nosso café da manhã feito sob medida e também inventamos alguns lanches à noite, naqueles dias em que o cansaço é maior que a vontade de sair para comer.
Assim que definimos o local onde vamos ficar, faço uma pesquisa nos arredores. Onde encontrar matinais, um bom pão de fermentação natural, frutas e algumas verduras para preparar uma salada à noite, e quem sabe uma garrafa de vinho (de preferência local). Itens que a gente encontra nas feiras de rua e ou no mercadinho do bairro.
Mas essa é só uma parte da alimentação durante a viagem. É claro que também vamos a restaurantes e provamos a comida típica da cidade ou da região. E um dos pontos mais importantes, na minha opinião, é o respeito pela cultura local. Nunca solicito alterações nos pratos do cardápio para atender minhas necessidades.
Encontrei um ponto de equilíbrio reconhecendo os meus limites relacionados com a alimentação. Decidi há alguns anos que, quando estivesse fora de casa, ou viajando, teria que renunciar a algumas restrições. E nessas situações aceito opções vegetarianas (ou ovolactovegetarianas) quando não encontro nada vegano em um cardápio.
Reconheço que muito mudou nos últimos anos, e já existe uma preocupação maior com as restrições alimentares em diversos lugares do planeta e muito mais opções nos cardápios. Mas ainda há muito o que melhorar.
Outro aspecto delicioso de ter uma casa para onde voltar no final do dia, durante a viagem, é ter uma mesa para desenhar e escrever, com uma boa iluminação. Levei um caderno de desenho fininho e todos os dias fiz algum desenho de algo que vi durante o dia (ou mais de um!).
Foi a minha primeira experiência com um caderno de viagem, e achei muito especial ter um novo olhar ao fotografar. Mantive a atenção naquilo que eu gostaria (e me sentisse capaz!) de desenhar. Inclusive alguns detalhes que não chamariam a atenção de ninguém, mas que entraram na minha coleção.
Um abraço carinhoso,
Monica
Lindas demais as suas ilustrações, Mônica. Tanto a aquarelada quanto a amostrinha do desenho do caderno de viagens 💚
que ilustrações bonitas! achei um barato vc ter um caderno de viagem. sempre tento (para escrever, porque não desenho com frequência), mas nunca passa do dia 2 rs.