Se existe algo que está sempre em uso aqui em casa é a panela de cerâmica para preparar meus fermentados. Quando um lote fica pronto, é envasado e colocado na geladeira. Nesse meio tempo, já planejei qual é o próximo. Algo que se repete indefinidamente.
Um hábito silencioso, que já faz parte da minha rotina. Aquele pote está sempre no canto da bancada da cozinha. O único cuidado é com o nível da água que sela a sua borda. Todos em casa já sabem que não pode secar. Quem percebe que o nível está baixo, completa!
Adoro testar se já está no ponto ideal (conforme o meu gosto pessoal), isto é, abrir o pote, sentir aquele aroma típico (que não agrada a todos, eu sei) e ouvir aquele som das borbulhas subindo quando solto a pressão da tampa… É um ritual delicioso.
Se me perguntarem há quanto tempo faço meus fermentados, não sei responder… Perdi a conta! Mas são anos em que algum vidro (ou, alguns vidros!) estão em alguma parte da cozinha com algum experimento. Amo quando um bom hábito entra assim na rotina, sem que a gente se dê conta! E sem grandes esforços…
Houve épocas em que experimentei muitas receitas novas e diferentes. Era ávida por alguma novidade e o desafio vindo de algum livro. Mas depois de tantas mudanças e dos anos em tratamento, mantive em produção aquilo que preparo sem dificuldade e que agrada a todos por aqui.
Uma das receitas mais repetidas e apreciadas é o picles de couve-flor com tiras de cenoura e pimentão. Quando está na época da couve-flor aproveito para preparar alguns vidros e guardar um pequeno estoque no fundo da geladeira, que não dura muito tempo!
A receita é bem simples. O maior trabalho é higienizar e picar os ingredientes. Também não tem um período de fermentação longo. Ou seja, perfeito para quem não tem paciência de esperar!
Sobre o tema fermentação, preparei um infográfico para uma aula quando ainda morava no Maranhão. Contém informações básicas, mas pode interessar a quem está começando agora. E no blog você encontra a receita mais básica sobre o assunto com muitas fotos: o famoso chucrute de repolho.
Picles de couve-flor fermentada
Ingredientes
1 couve-flor média, picada em floretes
5-6 dentes de alho cortados em lâminas
900 g de cenouras cortadas em tiras finas (use o descascador de legumes)
1 cebola cortada em tiras
1 pimenta dedo-de-moça sem as sementes cortada em tiras finas
1-2 colh. (sopa) de orégano seco
1 pimentão amarelo sem as sementes cortado em tiras
1 pimentão vermelho sem as sementes cortado em tiras
Modo de fazer
Misture os vegetais e temperos em uma tigela.
Coloque num vidro grande com tampa.
Prepare salmoura suficiente para cobrir tudo. Para cada 500ml de água filtrada, use uma colher (sopa) de sal marinho.
Cubra com as folhas da couve-flor, ou folhas de uva. Coloque um peso sobre as folhas. Pode ser um vidro pequeno cheio de água e tampado, uma pedra bem lavada (ou até fervida), ou uma tigela pequena de vidro, ou cerâmica. O importante é manter os ingredientes submersos na salmoura.
Feche o vidro e reserve por 1 a 3 semanas em temperatura ambiente em lugar protegido da luz. Abra todos os dias um pouquinho para soltar a pressão que se forma com a fermentação. E vá testando o sabor e a textura dos vegetais.
Assim que estiver pronto (de acordo com seu gosto pessoal!), transfira para vidros menores e guarde na geladeira. Mantenha coberto com a salmoura e bem tampado por até um ano.
Entre paninhos e linhas
Além das minhas aulas de desenho andei me ocupando com alguns paninhos e muitas linhas. E antes que me perguntem se voltei ao patchwork, me apresso em avisar que só estou às voltas com remendos. Me senti bem desconfortável em comprar caminhas novas para os cachorros porque elas estavam furadas, mas ainda com pouco uso. A Filomena tem o terrível hábito de tentar fazer um ninho antes de dormir, e o tecido não aguentou suas unhas.
Analisei a situação e pesquisei algumas possibilidades, chegando no Boro, uma técnica que surgiu no Japão em uma época de profunda pobreza no sec. XVIII. A intenção consertando as roupas com uma infinidade de retalhos sobrepostos era de que uma peça fosse usada até o fim de sua vida útil. Eram usados todos os tipos e tamanhos de tecidos presos com pontos de Sashiko, uma outra técnica que começou como pontos funcionais e rápidos de remendo, e hoje é uma arte à parte.
Me encantei com as possibilidades de uso do Boro e além das caminhas dos cachorros, que ganharam sobrevida, separei algumas peças de roupa queridas, mas muito usadas, e que estavam esperando uma dose de coragem minha para desapegar. Existe uma beleza nos retalhos sobrepostos e irregulares, mas o que mais importa é o que existe por trás deles, principalmente em tempos de tantas reflexões sobre sustentabilidade.
Pra quem se interessou pelo assunto e gosta de tricô, também existem possibilidades de consertar malhas furadas com o mesmo princípio, procure pelo termo “visible mending”.
Wabi-sabi
Ainda refletindo sobre o assunto, tenho uma recomendação de um livro lindo que mostra como enxergar beleza na imperfeição, apreciar a simplicidade e aceitar que tudo é impermanente.
Uma leitura que me mostrou como ressignificar o envelhecimento e a pensar em outras formas de beleza que a passagem do tempo pode oferecer. Encontrei algumas lições preciosas de como simplificar muito a minha volta e me concentrar no que realmente importa.
Um abraço com carinho
Monica
Monica, sua newsletter é uma que toda vez que chega eu faço questão de ler, de não perder nada. E nunca me arrependo, sempre acho alguma coisa interessante. Dessa vez eu amei a coincidência de você falar dos remendos e da costura. Eu tô numa onda de costurar tbm. Recentemente fiz um vestido tirando o molde de outro que eu tenho e amo, e troquei uns zíperes quebrados. Tô com uma pilha de outras roupas pra fazer pequenos cerzidos e outros reparos, e outro projeto de cópia, dessa vez de uma camisolinha em cambraia com rendinhas de algodão, com cara antiguinha. Uma vez um amigo me contou que entre o texto e o têxtil existe uma série de semelhanças que não tão só na coincidência da palavra, e eu adorei ficar brincando com essa contiguidade que até então eu não tinha visto. Um beijinho pra você, fiquei doida com esse livro
Monica, lhe desejo saúde! É a segunda pessoa que vejo recomendar esse livro. Vou colocar na minha lista. O assunto fermentação me encanta, mas já tentei fazer chucrute e não deu certo. Acho que a folha de cima não ficou completamente submersa. Ando um pouco atarefada com minha bebê de 3 meses sem rede de apoio diária, mas sigo fazendo uma coisa ou outra quando possível. Bjs