Sentir o cheiro de pão assando é um daqueles prazeres que deixam o meu coração batendo feliz. Fazer pão já foi um hábito mais frequente aqui na minha casa, mas desde que fraturei o pulso no final do ano, isso ficou de lado. E mesmo com a fisioterapia sei que sovar uma massa ficará para algum momento no futuro. Também andei um pouco longe da disciplina necessária para cuidar de um fermento natural e acompanhar as etapas de fermentação.
No entanto, eu não descartei fazer outras opções de pão mais rápidos. Mesmo usando os envelopinhos de fermento biológico instantâneo, e não ter pães com aqueles alvéolos enormes. Resolvi aproveitar essa temporada para pesquisar um assunto que me interessa muito, as farinhas de grãos com sabor diferente.
Os pães que andei fazendo são mais pesadões, texturas mais rústicas, e um sabor que beira o exótico. As combinações entre diferentes farinhas também são uma alquimia a parte e me dei conta de que essa é uma pesquisa bem complexa. Mas descobri algumas receitas que ficaram bem interessantes, foram testadas algumas vezes e compartilho logo abaixo.
As farinhas são o ponto delicado desse experimento. Algumas não são fáceis de encontrar, ou são caras. A solução foi comprar os grãos e processar em casa. E a forma de fazer isso foi o meu moedor de café! Amo moer os grãos de café em casa e ao longo dos anos pesquisei um moedor que permite fazer uma quantidade equivalente a uma xícara de chá de cada vez, e tem diferentes regulagens de moagem. Fiz as minhas farinhas de trigo sarraceno e sorgo em casa e ficaram perfeitas para os pães.
Para muitos que estão lendo essa newsletter essa aventura pode parecer algo surreal quando muitos não têm tempo para sequer cogitar fazer um pão em casa. Mas… sou de uma geração que sonhou com as inúmeras possibilidades de uma vida mais simples e até um tantinho autossuficiente. Cantei muito que queria uma casa no campo, junto com a Elis Regina. Cheguei a ter uma com horta, fogão a lenha, só faltaram as cabras pastando no jardim! Foi uma fase da vida que ficou pelo caminho, mas esse desejo de uma alimentação que em alguns momentos parte do zero (ou quase!) são resquícios de alguns sonhos/projetos de vida. Desculpem a dose exagerada de devaneio!
Voltando aos pães, que é o que interessa: vou deixar aqui duas receitas. Uma já faz parte do blog há anos, mas andava esquecida. É um pão de centeio e aveia, muito fácil e rápido. Perfeito para quem só tem um tempinho para misturar a massa e colocar no forno. Nada de sova!
Já a outra é um pão de sorgo que é o meu preferido do momento. Também é uma receita para misturar tudo em uma tigela, mas tem alguns detalhes um pouco mais complexos. É necessário usar o psyllium porque o pão não leva nada de glúten, e precisa de “estrutura” já que sua base são o sorgo e o trigo sarraceno. É um pão escuro e mais pesado, mas garanto que o sabor é incrível e bem diferente. Dura alguns dias enrolado em um pano, isso se você conseguir não comer tudo antes!
Pão de centeio e aveia
Pão de sorgo
Ingredientes
2 xíc. de água filtrada, aquecida (morna!)
2 colh. (chá) de fermento biológico instantâneo (8g)
1 colher (chá) de açúcar
2 colh. (sopa) de psyllium
4 colh. (chá) de farinha de linhaça (ou de chia)
1 colher (sopa) de vinagre de maçã
¾ xic. (105g) de farinha de sorgo
¾ xic. (105g) de farinha de arroz integral
⅔ xic. (90g) de farinha de trigo sarraceno
⅔ xic. (80g) de polvilho
½ xic. (80g) de fécula de batata
1 ½ colher (chá) de sal
Modo de fazer
Misture a água morna, o fermento biológico e o açúcar em uma tigela. Reserve por 10 minutos. Junte o psyllium, a farinha de linhaça e o vinagre. Reserve por mais 5 minutos.
Coloque as farinhas e o sal em uma tigela e misture.
Junte a mistura com o fermento e mexa até formar uma massa. Molde uma bola.
Prepare uma cesta ou tigela forrada com um pano de prato limpo e polvilhado com trigo sarraceno. Coloque a massa com a emenda para cima, cubra e deixe crescer por 30 minutos (se estiver frio, um pouco mais).
Aqueça o forno (200°C) e caso tenha uma panela de ferro, que possa ir ao forno, coloque dentro.
Vire a massa dentro da panela, ou em uma forma polvilhada com farinha. Faça cortes na parte superior com a ponta de uma faca bem afiada.
Leve ao forno por 30 a 40 minutos. Se usar a panela de ferro, retire a tampa na metade do tempo.
Retire do forno e transfira para uma grade. Espere esfriar completamente antes de cortar (se conseguir esperar!)
Guarde enrolado em um pano de prato limpo por até 2 ou 3 dias em temperatura ambiente. Após isso guarde em pote hermético na geladeira. Ou congele fatiado por até 3 meses.
Por último…
A receita que compartilhei no blog em fevereiro foi em homenagem ao aniversário da minha mãe que teria feito 87 anos. Escrevi um pouco sobre as lembranças deliciosas de quando cozinhamos juntas e descobrirmos novos ingredientes e receitas, como duas autênticas aquarianas! E também sobre a falta ela me faz…
Também terminei o livro “Todo o tempo que existe” da Adriana Lisboa e suas reflexões sobre saudade, luto e amor me tocaram profundamente. Ela traduziu em palavras aqueles sentimentos com os quais convivemos ao longo da vida e que estão relacionados a “superar” (ou não!) nossas perdas.
Algo que amei está relacionado a enxergar como as pessoas queridas continuam a viver em nós… “O nosso processo de luto é uma continuação da narrativa de quem se foi. O ser querido se cala mas nós continuamos a lhe dar voz, continuamos a narrá-lo em nós…”
“... A verdade é que não “superamos” uma experiência de perda. Não a deixamos para trás. Ela nos modifica para sempre, e a questão que passa a se colocar é como seremos dali por diante.” - Adriana Lisboa
Recomendo a leitura!
Um abraço e até a próxima
Monica
padaria em casa
Oi, Monica. Suas escritas são sempre um acalento!!!!! Um abraço!
Feliz em poder ler o que vc produz. Não sei se lembrará, mas nos conhecemos no Maranhão. Desde lá venho te acompanhando e fico feliz em ver sua recuperação e sua jornada no santo legume.
Realmente suas escritas são um abraço com doses de memória afetiva (geralmente aquelas ligadas à comida rs) e que bom que é.
Um beijo.