Enquanto digito essas linhas, percebo que finalmente temos um dia de sol e céu azul depois de muita chuva. Olho para a janela e vejo a cortina voando. Algo importante porque ter um ventinho aqui no litoral salva o dia.
Os pássaros estão alegres lá fora, ouço uma sinfonia de diferentes cantos. Alguns estão na varanda, atrás do pé de jabuticaba, comendo na velha forma de alumínio. Após resgatar muita casca de fruta lá no térreo, e para não levar bronca da zeladora, inventamos um comedor amarrado junto à grade (assim não cai lá embaixo quando venta forte).
Eles disputam cada bocado das frutas que coloco lá se revezando, ou talvez respeitando alguma hierarquia entre as espécies. Percebo que o sabiá é o mais temido. Assim que aparece, os outros voam e se colocam na ponta oposta da grade, esperando uma nova oportunidade de comer mais algum pedaço.
Em alguns momentos do dia passo pela sala e observo pela janela uma fila de pássaros esperando sua vez de compartilhar a refeição. E se eu falhar com a fruta, eles ficam por ali cantando, ou seria chamando? Deveria considerar a possibilidade de eles estarem aprendendo a pedir!
Não conheço os nomes dos pássaros que nos visitam, gosto de observar o seu colorido. Na verdade, nunca fui muito boa para guardar nomes de espécies animais. Quem andou pesquisando foi o marido, e por vezes tenta me ensinar quem é quem. Mas ando muito distraída, prefiro manter somente a preocupação de colocar diariamente as frutas lá fora…
Nas últimas semanas pretendia compartilhar por aqui algumas receitas e não consegui. Caí dentro de casa nos primeiros dias de dezembro e quebrei o pulso direito. Uma fratura delicada que levou a uma cirurgia e implantação de uma placa (e um punhado de parafusinhos). Depois de uma certa idade dificilmente há outra solução. A recuperação exige paciência e muita fisioterapia. E também algo que aprendi durante os últimos anos: entender o que é resiliência e praticá-la todos os dias com determinação. Hoje completo um mês de cirurgia e pouco a pouco estou fazendo progressos com tarefas bem básicas como me vestir e escovar os dentes.
Esse pequeno acidente também me fez sentar em frente ao computador e dar uma olhada naquilo que deixei de lado (já que por ora não consigo desenhar ou cozinhar). E achei algumas receitas que fiz para publicar no blog, já fotografadas, e rascunhos de posts bem adiantados. Também encontrei algumas ilustrações que fiz pensando nessas receitas, e aquela sensação boa ao entrar no blog e me sentir em casa.
Percebi que o meu cansaço com as redes sociais acabou me distanciando do blog. E talvez a questão não seja me afastar totalmente delas, mas sim, ressignificar a sua função. Já abandonei algumas, porque vi que não faziam mais sentido. Mas repensei o uso das que ficaram. Como exemplo, tenho aproveitado para encontrar perfis de ilustradores que podem ser fonte de inspiração e estou adorando! Enfim, estou abrindo espaço para enxergar o que realmente importa.
Uma das inspirações para a receita de biscoito que compartilho aqui foi com certeza o limão-siciliano, muso absoluto na minha cozinha. Aliás, a muda que plantei em um vaso na varanda, segue firme, mas crescendo devagar. Já aprendi em outros tempos que plantar uma muda dessas requer uma boa dose de paciência.
O outro motivo para assar biscoitos são os meus já tradicionais presentes comestíveis para a família e amigos. A intenção (frustrada neste 2022) era compartilhar a receita antes do Natal.
Aliás, a Carla do Outra Cozinha citou o Santo Legume em dezembro justamente sugerindo essa ideia de preparar alguns presentes natalinos. Retribuo o carinho sugerindo a visita ao blog dela para aprender a preparar os chips de banana-verde ou quem sabe começar o seu gingerbug e preparar bebidas gaseificadas à base de gengibre. Mas não fique só nas receitas, tem muito texto bom por lá.
Biscoito com tahine e limão-siciliano
Rende uns 25 biscoitos
Ingredientes
230 g de tahine
2 colh. (sopa) de leite vegetal
1 colher (chá) de extrato de baunilha
raspas de 1 limão-siciliano
2 colh. (sopa) de suco de limão-siciliano
¾ xíc. de açúcar mascavo (ou de coco)
1¼ xíc. de farinha de aveia
½ colh. (chá) de sal
1 colh. (chá) de fermento em pó
sementes de gergelim para finalizar (opcional)
Modo de fazer
Aqueça o forno (180º C). Forre uma assadeira grande com papel manteiga.
Misture o tahine, leite, baunilha, suco e raspas de limão em uma tigela, até ficar homogêneo.
Peneire os ingredientes secos sobre a tigela. Mexa até formar uma bola.
Enrole pequenas porções, coloque na assadeira, aperte e achate com cuidado. Deixe um espaço entre os biscoitos.
Polvilhe o gergelim (se usar).
Leve ao forno por 10 a 15 minutos. Espere esfriar antes de desenformar.
Por último…
Com os movimentos da mão restritos, aproveitei para colocar a leitura em dia. Um dos livros, que estava parado era a biografia da Frida Kahlo, e não poderia ter lido em melhor hora. Acompanhar a trajetória de alguém que fez da arte uma forma de ressignificar a sua dor física me tocou profundamente.
Desde que recebi o diagnóstico de câncer há alguns anos, o desenho e a pintura têm me acompanhado e se tornaram essenciais para meu equilíbrio emocional. Mesmo que aquilo que eu esteja criando não tenha nada de excepcional!
O livro é grande, mas o texto é gostoso e intercalado com muitas fotos dos incríveis trabalhos de Frida. Recomendo!
Um abraço carinhoso
Monica
Aqui em casa tentamos plantar a mudinha de limão várias vezes, mas os gatos reviram o vaso. Acho que é o cheiro, não sei haaha
fiquei doida p fazer os biscoitos!
Oi Monica! Que carinho devolver a indicação 💚 Fiquei curiosa com a biografia da Frida. É uma figura muito emblemática que eu gostaria de conhecer mais, e que foi apropriada de um jeito comercial que esvazia demais esse lado doído dela. Esse esvaziamento diz muito sobre como a gente invisibiliza a doença, as deficiências, e os sofrimentos das pessoas em volta. Fico feliz de poder te ouvir falar sobre isso. Um enorme abraço e o desejo de que você fique bem 😘